Se o seu negócio ainda não está olhando para o seu impacto social, esse momento nos mostra que mais do que nunca é importante estar atento e incluir o propósito na cultura da sua empresa. Não basta mais apenas olhar para o lucro, é preciso também se responsabilizar por aquilo que acontece no seu entorno e que pode impactar sua região ou território. A boa notícia é que fazer isso é mais fácil do que você imagina. Não é preciso reinventar a roda nem aportar uma grande quantidade de capital – a construção de conexões e parcerias estratégicas com empreendedores de impacto pode ser uma possibilidade para tornar o ambiente de trabalho corporativo mais sustentável, diverso e inclusivo.
Projetos sociais e novas forma de gerar impacto
Quem é gestor ou gestora de uma empresa sabe que não é fácil aliar a busca por propósito em nossas vidas com as demandas rotineiras do mercado.
Ao longo de todo o processo de industrialização a geração de valor econômico acontecia de forma independente e desacoplada da geração de valor social. O século 20, em muitos sentidos, foi uma época de esgotamentos: dos recursos naturais, da saúde mental e física, da capacidade de regeneração de ecossistemas… Até mesmo nossas vontades e desejos se esgotaram diante de tantas opções de escolha. Por um lado as iniciativas de inovação e desenvolvimento de novos produtos nos concederam acesso a uma série de soluções para problemas complexos; por outro, nos vemos hoje esgotados com uma infinidade de opções muitas vezes supérfluas e que, em um nível mais elevado, pouco agregam à nossa vida e ao nosso propósito individual.
Para quê tantas opções de sabores de pasta de dente se todas elas contém em sua composição microplásticos e outros componentes químicos que causam danos à nossa saúde e poluem os rios e oceanos?
A mudança recente na ordem das coisas nos trouxe o alerta sobre a conexão entre nossos hábitos e a saúde maior do planeta, ao mesmo tempo que nos proporcionou uma série de reflexões sobre como podemos ser pessoas e profissionais melhores e de mais impacto. E a dura verdade é que muitas vezes temos este desejo mas não conseguimos torná-lo realidade, ou porque não sabemos por onde começar, porque não temos a energia ou não queremos empreender sozinhos, ou até mesmo porque vemos as nossas possibilidades cerceadas pelas estruturas já consolidadas das instituições e organizações em que atuamos.
A boa notícia é que não é preciso reinventar a roda.
O poder das conexões
Parte do meu trabalho como Consultora de Negócios de Impacto na Semente Negócios é ajudar empreendedores e empreendedoras a desenvolverem as suas ideias, transformá-las em projetos e realizarem mudanças reais no território ou setor em que atuam. E isso vai desde pessoas que estão começando uma startup, até departamentos de organizações ou empresas. Estar em contato com ambas as pontas nos concede um olhar privilegiado: de um lado, temos uma massa crítica de lideranças e empreendedores sociais executando projetos de impacto junto às suas comunidades; do outro, temos empresas e organizações de grande porte sedentas por transformarem sua forma de atuação, se reposicionar no mercado e incorporarem iniciativas de impacto social positivas.
A contribuição do empreendedorismo social
Muitas vezes a solução para os nossos problemas está a poucos passos de distância. Uma ou duas conexões me separam da pessoa que pode me ajudar a destravar uma frente importante ou executar um projeto.
O mesmo acontece com empresas que estão em busca do seu propósito. Quando pensamos em começar algo assim no ambiente no qual trabalhamos, os medos e as incertezas são muitos. Metas, desafios de alocação, convencer os demais colegas… E fazer isso a partir de uma folha em branco ou de uma ideia vaga de projeto adiciona algumas camadas de dificuldade.
Outro caminho alternativo é valer-se do poder das conexões e da construção de parcerias com os “especialistas” no ramo – e aqui estes são os empreendedores sociais ou empreendedores de impacto. Pessoas que estão à frente de negócios de impacto já validados, e que trazem consigo a expertise e a bagagem necessárias para conferir agilidade e qualidade ao processo de inovação social da sua organização.
Quer saber como?
Listamos abaixo três exemplos de iniciativas que podem atuar junto à sua empresa alavancando seu potencial de impacto:
Signa
Atenta à inclusão qualificada de pessoas surdas no mercado de trabalho.
A Signa nasceu em janeiro de 2016 para resolver um problema muito urgente da nossa sociedade: a falta de oportunidades qualificadas de trabalho para os mais de 9,7 milhões de surdos brasileiros. Baseados em um compromisso forte com a educação, os empreendedores Leandro, Icaro e Fabíola desenvolveram uma plataforma online adaptada que oferece cursos de capacitação para pessoas surdas, produzidos pela própria comunidade surda, de forma didática com Libras e legendas.
A partir da sua experiência e do acompanhamento dos resultados junto aos mais de 3 mil alunos que já passaram pela plataforma de e-learning, o time de empreendedores percebeu que o problema que estavam resolvendo tinha ainda uma outra face: não adiantava apenas qualificar as pessoas surdas para ingressarem no mercado de trabalho, era necessário também capacitar as próprias empresas – gestores e colaboradores das organizações – para que estas pudessem se estruturar e estarem preparadas para recebê-los. Pensando nisso a Signa desenvolveu uma nova frente de trabalho, focada em desenvolver projetos sociais específicos para empresas, institutos e organizações preocupados em atender a Lei de Cotas e promover uma maior inclusão e diversidade entre seus quadros de colaboradores.
Pernas, pra que te quero! e Ploy
Ação social que promove integração de PCDs e muito mais.
O Pernas, pra que te quero! nasceu em 2015 como uma ação de inclusão social com o objetivo de proporcionar uma experiência nova para crianças cadeirantes: a de a de participarem de uma corrida conduzidas por corredores sentindo o “vento na cara” e a alegria de fazerem parte de uma nova dinâmica de integração. Desde então a empreendedora Rebeca Paciornik Kuperstein alavancou o seu negócio de impacto em diferentes frentes. Primeiro, a ação social virou um produto inovador – o Ploy – que no formato de um acessório acoplável confere maior estabilidade a qualquer usuário de cadeira de rodas. E, em seguida, iniciou uma série de atividades para proporcionar um maior entendimento dentro do mundo empresarial para a realidade e vivências das Pessoas Com Deficiência. Desta forma, uma empresa que está alinhada à esta causa pode começar apoiando um projeto já existente ou desenvolvendo uma ação interna em parceria com um empreendedor de impacto.
Diosa
Igualdade de gênero no setor da construção civil.
Especializadas no setor da construção civil e com um olhar específico direcionado para questões de gênero, as empreendedoras Maira Peres e Larissa Blessmann fundaram a Diosa com uma proposta de valor única no seu mercado: ir além do marketplace, proporcionando um modelo de negócio de impacto, escalável, e que de fato sirva como plataforma para transformação social e empoderamento de mulheres. Por meio de parcerias estratégicas com empresas e organizações do setor, a Diosa capacita e qualifica mulheres para atuarem como profissionais na área de consertos e reformas. Ao mesmo tempo em que realiza a intermediação dos serviços em uma plataforma digital e automatizada, na qual qualquer pessoa pode realizar a contratação de uma prestadora de serviços Diosa, de forma segura, ágil e com garantia de qualidade. Neste modelo, a conexão entre a demanda e a oferta dos serviços serve como alavanca para o desenvolvimento social e geração de renda para as mulheres, que se engajam em uma rede de empoderamento pensada especialmente para elas.
Uma empresa alinhada ao propósito da igualdade de gênero pode começar tornando-se parceira estratégica de redes e integrando plataformas como a Diosa, apoiando a capacitação de mulheres não apenas pela via financeira mas por meio do compartilhamento de conhecimento, oferecendo as ferramentas necessárias para alavancar o potencial e possibilitar sua inclusão profissional.
Por onde começar?
Para desenvolver um projeto social dentro de uma organização o primeiro passo é olhar para dentro. Qual é o propósito com o qual seu time se identifica? Qual é a causa que desperta o desejo de mudança das pessoas com que você trabalha?
Para qualquer iniciativa se desenvolver é essencial que ela esteja alinhada à tese de impacto da sua organização. O Instituto Lojas Renner, por exemplo, estrutura todo seu trabalho em torno de dois eixos: o empoderamento de mulheres e o desenvolvimento de comunidades do seu entorno.
Tais temas transversais podem estar alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, à cadeia produtiva ou ao mercado setorial no qual sua organização já atua, com uma tendência global ou desafio regional identificado ou, até mesmo, com uma visão de futuro sustentável das lideranças. Geralmente a tese de impacto da sua organização estará em uma intersecção destes.
Quer entender melhor o que é Tese de Impacto? Comece desenhando a sua Teoria da Mudança.
Uma vez definida a sua tese de impacto, busque por organizações, iniciativas e empreendedores que já atuam com desafios similares e com quem você poderá encontrar sinergias.
Busque por mapeamentos setoriais, considere realizar uma chamada aberta para identificar negócios de impacto que estão desenvolvendo soluções afins ou até mesmo investigue as possibilidades de rodar seu próprio laboratório de inovação social!
Comece pequeno, mas não tenha medo de dar os primeiros passos para alavancar o impacto social da sua organização.
Quer somar a esta massa de transformação a partir da inovação social? Mande uma mensagem para agendarmos uma conversa!
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