Em um post anterior, discutimos com profundidade o tema negócio de impacto e os seus significados. Neste texto, afunilaremos essa discussão: e o empreendedorismo feminino de negócios de impacto?
Para nos aprofundarmos nessa discussão, a Semente Negócios convidou para uma edição do ImpactCast, Aline Lima, fundadora e Diretora Executiva da Ressignificadas Inteligência Emocional e Social, negócio que ajuda mulheres com traumas e abusos emocionais.
Também participam deste episódio, Ana Carolina Cândido – COO na InsullinApp e Co-Founder e CEO da MovetoCare, e Priscila Camacho – Fundadora da My Freela Jobs, uma consultoria que acredita em carreiras independentes e autorais de sucesso.
As convidadas levaram o assunto para além da jornada de empreender, trazendo como o mercado inclui (ou não) as mulheres empreendedoras, o que pode ser feito a respeito disso e como estão impactando outras mulheres com seus negócios.
Aqui nesse artigo trataremos os principais pontos discutidos nessa conversa. Você também pode ouvir este episódio do Impactcast na íntegra por aqui:
Panorama do empreendedorismo feminino de impacto
Assim como em outros setores da economia brasileira, os negócios de impacto não fogem à regra. As mulheres comandam uma parcela expressiva de negócios, mas não possuem os mesmos acessos a investimentos que os liderados por homens.
Quer ver?
De acordo com estudo divulgado pelo 2º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, realizado pela plataforma Pipe.social, das empresas fundadas apenas por mulheres ou as que são maioria no quadro societário, apenas 25% conseguiram investimentos.
O percentual chega a 55% entre os negócios fundados apenas por homens ou com predominância masculina.
A pesquisa analisou 1.002 empresas de áreas como educação, saúde, cidadania e serviços financeiros.
Desses negócios do estudo, 44% são comandados por mulheres. Entre os negócios não formalizados, elas representam 33%.
Como o empreendedorismo feminino de impacto pode mudar esse cenário
Os negócios de impacto social estão conquistando mulheres de diferentes maneiras em todo o mundo, de acordo com o relatório do British Council.
Para 75% das empreendedoras entrevistadas em cinco países, ter aberto seu próprio negócio despertou um sentimento de autovalorização. E para 56% delas, a iniciativa trouxe o direito de fazer as próprias escolhas – sobretudo, para as mulheres com menor poder aquisitivo.
Uma pesquisa da Thompson Reuters Foundation, por outro lado, aponta o Brasil como o pior lugar para o empreendedorismo feminino social entre 44 países participantes.
As barreiras vão de menor acesso a financiamentos às pressões sociais, culturais e familiares. O preconceito e a discriminação têm um peso substancial nesse resultado.
Mas, a despeito dos desafios, elas continuam avançando e construindo negócios inovadores.
Um bom exemplo disso é a Ressignificadas Inteligência Emocional e Social. Aline Lima, fundadora do projeto, explica que essa iniciativa é fruto da sua história pessoal e profissional, e também de uma crença que todas as pessoas são capazes de dar um novo significado a sua história de vida.
Para, a partir daí, construir uma nova narrativa onde ela possa ser protagonista das mudanças que quer ver no mundo
“As minhas experiências me fizeram enxergar que é necessário buscar uma nova forma de ver o mundo, para que possamos transformar nossas dores em potência e, assim, trabalhar de forma efetiva pela Equidade de Gênero, Raça e Diversidade Sexual”, ela afirma.
“Acredito que toda mulher deve ser respeitada por sua história, pelo seu caráter, pela sua essência e por tudo que ela pode contribuir para o mundo enquanto ser humano e que ela precisa se libertar da Síndrome da Impostora para que isso aconteça.”
Síndrome da impostora
A Sídrome da Impostora, que a empreendedora se refere, consiste, basicamente, na falta de confiança e autoestima para desempenhar uma função em espaços tradicionalmente masculinos. O que leva a mulher a trabalhar mais e melhor para sentir que tem direito a esse reconhecimento.
Sobre esse assunto, Ana Carolina Cândido – COO na InsullinApp, Co-Founder e CEO da Move2Care dá um depoimento muito interessante:
“Essa coisa da síndrome do impostor que nós temos é porque a mulher tem uma cobrança muito grande de todos os lados, e acha que tem que dar conta de milhões de coisas, então ela nunca se acha pronta o suficiente para uma vaga, para empreender, ou para qualquer coisa que seja.”
E ela continua:
“A mulher tem uma garra dentro de si, e já nasce com essa coisa de empreender e desconstruir desde muito cedo porque quando a gente nasce, eles já tentam colocar a gente dentro de uma caixinha. Se você é mulher, se é menina, você não pode fazer tal coisa. Não pode correr. Tem que ficar com a perna fechada. Para gente chegar em algum lugar, para a mulher chegar ao mercado de trabalho ela tem que empreender ao longo da vida dela, dentro da personalidade, dentro da criação, como aquela coisa de realizar, de tentar, de fazer, então ela já vem com isso, essa coisa de empreender.”
Ana explica que o seu desejo de empreender nasceu de uma inquietação de levar ações práticas para a área de Saúde. Uma grande frustração sua, durante um período que trabalhou na área de pesquisa e em hospitais ao mesmo tempo, foi identificar que muito do esforço empreendido nos materiais acadêmicos não era levado adiante.
A pesquisa muitas vezes parava em uma publicação de revista de alto impacto, mas sem resultados reais efetivos.
Vendo essa oportunidade dentro da área de saúde, Ana começou a frequentar eventos de empreendedorismo, onde acabou conhecendo o sócio do projeto que tem hoje: o InsullinApp, uma solução hospitalar inteligente para controle glicêmico do paciente através do celular.
Se joga!
Priscila Camacho – Fundadora da My Freela Jobs, consultoria que conecta profissionais independentes à projetos e demandas dentro das empresas, também ascendeu para o empreendedorismo a partir de uma inquietação:
“Eu venho do mercado corporativo. Foram 17 anos trabalhando para grandes empresas e eu via que a gente não tinha um processo de trabalho fluido. Era sempre uma estrutura muito engessada, entregas muito engessadas, estruturas rígidas, modelos muito quadrados de gestão e eu via que faltava uma opção de carreira para as pessoas diferente de crescer, estudar, prestar concurso ou seguir uma carreira de CLT, ter um grande emprego, trabalhar numa multinacional.”
Ela afirma que existem pessoas super talentosas que querem trabalhar de uma maneira independente e autoral e de uma maneira interessante para vida delas.
Foi por isso que começou a estudar os movimentos de mercado e entender como que o cenário brasileiro estava se comportando, entender como isso vinha refletindo lá fora e decidiu fundar uma empresa que tivesse um papel de colaborar com a sociedade.
“Com as pessoas que querem uma terceira opção de carreira, uma carreira independente e que consiga tocar isso dentro das empresas, só que sem ter essa relação de paternalismo, de bater cartão, de ficar ali todos os dias, podendo ter essa autoria criativa própria.”
Como resultado dessa iniciativa, os esforços de Priscila logo se converteram na possibilidade de ajudar outras mulheres a empreenderem dentro das suas próprias casas e organizando as suas rotinas:
“Eu recebi recentemente um feedback de uma mãe que havia sido contratada para um projeto onde ela faria o trabalho de casa e teria apenas que participar de reuniões esporádicas, enfim, agradecendo, e dizendo que ela estava realizando um grande sonho que era ter mais proximidade no dia a dia com a filha. Isso para mim é mais que ganhar na megasena.”
“Acho que quando a gente realmente cumpre o propósito é quando as nossas ações repercutem na vida de outras mulheres e as delas assim sucessivamente.”
Por fim, se você acredita que o empreendedorismo feminino é o caminho, não se deixe dominar pela síndrome da impostora, a preconceitos e estereótipos.
Nesse sentido Aline Lima deixa uma dica final para aquelas que estão com medo de começar:
“É melhor feito do que perfeito! Então, por mais que você acredite que ainda falta um curso, que ainda falta mais um conhecimento, não pare, apenas faça, olhando para aquilo que você já tem na sua história de vida.”
Ela completa: “muitas vezes a gente se compara demais, então a gente quer fazer o curso ou a mesma viagem que uma determinada pessoa fez. Se você tem uma ideia, vá, tente, tente com o que você tem comece assim, com passos de formiga, foi assim comigo. E outra coisa muito importante é: direção, mais importante do que a velocidade. Porque a gente também está sempre se comparando com as grandes startups, unicórnio, e fala: ‘não, eu nunca vou chegar lá’, ai não faz, aí paralisa, eu acho que a gente tem que se comparar somente com a gente, todos os dias. A gente tem que buscar ser a nossa melhor versão e estabelecer metas, porque quando eu falo que direção é mais importante que velocidade, de nada adianta você entrar no táxi e falar : ‘me leva para São Paulo’, ele vai falar: ‘tá, mas qual lugar de São Paulo?’ ‘Me leva para São Paulo’, vocês vão ficar andando meses e não vão chegar a lugar nenhum. Então estabeleça seu limite mesmo que seja para amanhã, não precisa fazer uma meta para 10 anos, e um dia após o outro você vai chegar, entendeu? Então se joga!”
Se a história dessas mulheres inspirou você a vir para o time do empreendedorismo feminino, conta para a gente os seus desafios hoje!
Conheça o Caminho Empreendedor, a metodologia da Semente para desenvolvimento de negócios inovadores: