Se você é mulher, imagino que o título que questiona quais as competências da empreendedora do futuro possa te incomodar um pouco. O que é compreensível, considerando que vivemos em um cenário em que 61 horas por semana das mulheres brasileiras são gastas em trabalhos não remunerados (relatório da OXFAM e Think Olga); quando comparado aos homens, elas estudam 8,1 anos contra 7,6, porém ainda têm renda 41,5% menor (ONU); e ocupam apenas 19% dos cargos de gestão no Brasil, 8% se for mulher negra (INSPER). Diante de um contexto machista e misógino, considerar ter que desenvolver mais competências para sobreviver ao mercado de trabalho do futuro chega a soar desgastante. Entretanto, tais habilidades não deixam de ser mais um trunfo na manga do universo feminino. Quer ver?
Para começar, é evidente que a Covid acelerou os principais processos até então considerados do futuro. A escala do trabalho remoto, a aceleração da digitalização e da automação são alguns desses exemplos. Porém, a crise mostrou também que a pandemia tem cor e gênero: 8,5 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho no terceiro trimestre de 2020 (Organização Mundial do Trabalho) e as razões para essa evasão são diversas, porém, podemos destacar a principal delas: a dedicação da mulher no que é chamado de trabalho invisível.
Se o cuidado com os afazeres domésticos, filhos, idosos já era uma responsabilidade assumida pelas mulheres na maioria das vezes, durante a pandemia esse “emprego” se ampliou. Mais de 40% do público feminino não consegue funções remuneradas porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado, enquanto entre os homens, esse percentual é de apenas 6% (Relatório OXFAM). Diante deste cenário, muitas resolvem empreender como uma solução para conciliar uma ocupação laboral paga, com as responsabilidades já assumidas.
Programa Sebrae Delas Mulher de Negócios
Dito tudo isso, como estas empreendedoras podem ter sucesso frente a tantos desafios e obstáculos? A economista e fundadora do O Futuro das Coisas, Lilia Porto, ajudou a responder esta pergunta para mais de 500 mulheres durante o lançamento da turma 2021 do Programa Sebrae Delas Mulher de Negócios Santa Catarina, na segunda quinzena de abril deste ano. O evento, realizado remotamente, porém em tempo real, pela Semente Negócios, trouxe temas como propósito, liderança inclusiva, invisibilidade das mulheres no mercado de trabalho e tendências no que tange o universo feminino nos negócios. E o principal: abordou quais habilidades e competências são mais importantes para essas empreendedoras se tornarem, daqui para frente, empreendedoras do futuro.
Não surpreende que as habilidades mais valorizadas no mercado de trabalho atualmente são tidas como femininas. Empatia, espírito colaborativo, flexibilidade, versatilidade e escuta ativa são algumas delas, que também estruturam as habilidades da empreendedora do futuro. Ao passo que o modelo de gestão predominante masculino direcionou nossa sociedade para o crescimento econômico, o mesmo falhou nos atributos de cuidado e empatia. E em um contexto em que o cuidado deve ser prioridade, seja com a saúde, com as pessoas, com a cidade, com a economia, dentre outros, exercer essa sensibilidade torna-se necessária independente do gênero. Mas, voltemos algumas casas. De cuidado as mulheres já entendem, não é mesmo?
Além disso, o Fórum Econômico Mundial em outubro de 2020 levantou as 10 habilidades que os profissionais do futuro precisam desenvolver até 2025 e uma delas é a aprendizagem intencional. Trata-se da prática de considerar cada experiência como uma oportunidade para aprender algo. Isso torna a educação um processo ativo e instintivo diante das situações cotidianas. Ao transformar o ato de aprender, passamos a nos questionar: “éramos bons nisso ontem, mas é isso que precisamos fazer agora?”. Diante disso, vem a compreensão de que o aprendizado não é apenas o desenvolvimento de habilidades que te levam a determinado fim e, sim, a compreensão de quais competências, sejam estas técnicas ou emocionais, são necessárias para cada um trilhar o seu próprio caminho.
O resultado disso é não esperar que as coisas aconteçam, para então puxar a responsabilidade para si. E esse senso de autorresponsabilidade, novamente voltando algumas casas, é uma qualidade inerente às mulheres! Ou seja, as competências da empreendedora do futuro tratam-se, nada menos, do que as habilidades já preexistentes no universo feminino, que quando trazidas para o campo do trabalho ganham o tal protagonismo inexistente diante de todas as estatísticas que acercam o tema.
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