A filantropia tradicional, muitas vezes associada a doações pontuais e ações assistencialistas, tem um papel importante no alívio de emergências sociais. No entanto, esse modelo se mostra insuficiente para resolver problemas estruturais e promover mudanças duradouras. É nesse contexto que a filantropia estratégica ganha destaque, oferecendo uma abordagem mais eficiente e sustentável para transformar realidades.
Mas será que a filantropia estratégica tem realmente cumprido seu papel?
Apesar de seu crescimento, muitas iniciativas ainda falham em gerar mudanças estruturais porque permanecem presas a modelos de financiamento fragmentados e indicadores pouco alinhados às reais necessidades das comunidades.
Neste artigo, exploramos os desafios e os acertos da filantropia estratégica, trazendo exemplos concretos, como o Amplitude Perifa, para ilustrar caminhos eficazes de implementação no Brasil.
A evolução da filantropia: do assistencialismo à transformação social
Durante décadas, a filantropia foi sinônimo de caridade: doações de alimentos, roupas e recursos para amenizar crises imediatas. Embora essas ações sejam importantes, elas não atacam as raízes dos problemas sociais. A filantropia estratégica surge como uma resposta a essa limitação, focando em soluções de longo prazo e impacto mensurável.
No entanto, essa transição nem sempre acontece da maneira ideal. Em muitos casos, grandes investimentos filantrópicos acabam reproduzindo dinâmicas de poder que limitam a autonomia das comunidades beneficiadas. A dependência excessiva de métricas quantitativas pode obscurecer impactos reais e aprofundar desigualdades ao privilegiar soluções que são mais fáceis de medir, mas nem sempre as mais eficazes.
Segundo o relatório Giving USA 2023, o setor filantrópico movimentou cerca de US$ 499,3 bilhões nos EUA em 2022. No Brasil, mais de 879 mil organizações do terceiro setor atuam nesse campo, segundo o IPEA. Mas os desafios persistem: muitas iniciativas ainda operam de forma fragmentada, sem colaboração entre setores e sem estratégias de sustentabilidade a longo prazo.
O que diferencia a filantropia estratégica do assistencialismo?
A filantropia estratégica se diferencia do assistencialismo porque vai além do alívio imediato das necessidades e busca gerar mudanças estruturais e sustentáveis. Enquanto o assistencialismo age no curto prazo e muitas vezes cria dependência, a filantropia estratégica investe em soluções baseadas em evidências, parcerias e fortalecimento das comunidades para gerar impacto real e duradouro.
No entanto, essa abordagem nem sempre tem sido bem aplicada. Muitas iniciativas filantrópicas mantêm uma lógica de “projetos temporários” que não criam estruturas permanentes de transformação. Além disso, a falta de participação ativa das comunidades beneficiadas ainda é um grande obstáculo. Para que a filantropia estratégica seja realmente transformadora, é preciso mudar o paradigma: em vez de financiar apenas projetos ou programas de curto prazo, é necessário investir em redes e ecossistemas que possibilitem autonomia e impacto contínuo.
Principais diferenças:
- Foco no longo prazo: Em vez de resolver necessidades imediatas, busca atacar as causas dos problemas sociais.
- Uso de dados e evidências: Iniciativas são guiadas por métricas concretas e pesquisas de impacto.
- Parcerias multissetoriais: Governos, empresas e organizações sociais trabalham juntos para ampliar o alcance das ações.
- Empoderamento das comunidades: Investe no fortalecimento da sociedade civil, evitando a criação de dependência.
Exemplos de impacto real
A filantropia estratégica já demonstrou resultados expressivos ao redor do mundo e, cada vez mais, no Brasil. Confira alguns exemplos:
- Fundação Lemann: Investe em educação de qualidade e formação de lideranças para transformar políticas públicas e melhorar o ensino no Brasil.
- Instituto Helda Gerdau: Associação sem fins lucrativos criada em 2020 com o propósito de potencializar iniciativas de impacto social positivo, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva. Atua como financiador e apoiadores de iniciativas comprometidas em transformar vidas e, a longo prazo, todo o país.
- Fundação Itaú Social: Desenvolve programas para fortalecer a educação pública, promovendo formação de professores e inovação pedagógica.
- Instituto Lina Galvani: Fomenta o desenvolvimento sustentável de comunidades em regiões de vulnerabilidade, promovendo educação, empreendedorismo e fortalecimento de cadeias produtivas locais.
O papel das empresas e investidores na filantropia estratégica
Com o crescimento das práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), muitas empresas estão integrando ações filantrópicas em suas estratégias de negócios. No entanto, o risco de transformar a filantropia em apenas uma ferramenta de marketing é real. Para evitar isso, as empresas precisam se comprometer com práticas transparentes, medindo impacto de forma qualificada e garantindo que suas iniciativas realmente beneficiem as comunidades.
O ESG tem relação direta com a filantropia estratégica. Mas até que ponto esses investimentos estão realmente transformando realidades?
Algumas formas eficazes de atuação incluem:
- Criação de fundos de impacto social de longo prazo.
- Investimento em programas de capacitação e geração de renda.
- Apoio a negócios sociais que combinam impacto positivo e sustentabilidade financeira.
- Desenvolvimento de iniciativas que envolvem participação ativa das comunidades beneficiadas.
O Instituto Helda Gerdau, por meio do Programa Amplitude Perifa, é um modelo de como a filantropia estratégica pode impulsionar o empreendedorismo inclusivo. Ao invés de apenas oferecer doações, o programa investe em capacitação, mentorias e suporte financeiro para negócios periféricos, permitindo que pequenos empreendedores e empreendedoras prosperem e se tornem vetores de desenvolvimento econômico em suas comunidades.
Conheça o Programa Amplitude Perifa
O Programa Amplitude Perifa é uma iniciativa do Instituto Helda Gerdau e do Instituto Cória, com apoio da Coalizão pelo Impacto Porto Alegre. O programa visa capacitar negócios de impacto periférico em Porto Alegre e Região Metropolitana, proporcionando capacitações e aporte financeiro para alavancagem dos negócios. O objetivo principal é fomentar competências empreendedoras e contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e sustentável.
Diferente de muitos projetos filantrópicos tradicionais, essa iniciativa busca fortalecer ecossistemas locais, criando redes de apoio que garantam impacto de longo prazo.
Os benefícios do Programa Amplitude Perifa
O programa promoveu a inclusão social ao dar voz e oportunidades a pessoas empreendedoras de comunidades marginalizadas, permitindo-lhes desenvolver suas habilidades e realizar seu potencial. As capacitações em habilidades socioemocionais e competências empreendedoras melhoraram a gestão dos negócios e aumentaram a autoestima e a confiança das pessoas participantes.
Além disso, negócios como o Sabão da Tinga tiveram um impacto direto na comunidade ao empregar mulheres em situação de vulnerabilidade e promover práticas sustentáveis, como a reciclagem de óleo de cozinha.
Do ponto de vista econômico, o Amplitude Perifa contribuiu para a criação de empregos e a geração de renda nas periferias. Os negócios acelerados pelo programa conseguiram aumentar sua capacidade operacional, melhorar suas estratégias de marketing e gestão financeira, e expandir suas redes de contato e visibilidade.
O aporte financeiro proporcionado permitiu que esses negócios investissem em infraestrutura, tecnologia e recursos humanos, resultando em operações mais eficientes e rentáveis. Saiba mais detalhes sobre o Programa Amplitude Perifa!
Caminhos para implementar a filantropia estratégica no Brasil
Apesar do crescimento desse conceito, o Brasil ainda enfrenta desafios na transição do assistencialismo para um modelo mais estratégico. Para que a filantropia seja de fato transformadora, é essencial superar barreiras institucionais e culturais que perpetuam soluções paliativas. Algumas recomendações incluem:
- Mapear as Reais Necessidades da Comunidade: Entender os problemas estruturais antes de definir projetos.
- Desenvolver Modelos Sustentáveis: Evitar dependência exclusiva de doações pontuais.
- Criar Indicadores de Impacto Qualitativo: Medir e ajustar ações conforme resultados reais, e não apenas métricas numéricas.
- Apostar na Inovação Social: Financiar soluções escaláveis e replicáveis.
- Fortalecer a Governança e a Transparência: Garantir boas práticas na alocação dos recursos.
Se não houver um compromisso real com a transformação social, a filantropia seguirá como uma ferramenta de marketing institucional em vez de um motor de mudança efetiva. A pergunta que fica é: como podemos, juntos, transformar a filantropia em um verdadeiro agente de impacto?
Filantropia estratégica: como ir além do assistencialismo?
- O que é filantropia estratégica?
A filantropia estratégica é uma abordagem baseada em planejamento, métricas de impacto e soluções estruturais para resolver problemas sociais de forma sustentável, indo além do assistencialismo.
- Qual a diferença entre filantropia estratégica e assistencialismo?
A filantropia estratégica foca em soluções de longo prazo e impacto mensurável, enquanto o assistencialismo atua apenas na resposta imediata a problemas sociais, sem gerar mudanças estruturais.
- Como empresas podem adotar a filantropia estratégica?
Empresas podem criar fundos de impacto, apoiar negócios sociais, investir em capacitação e trabalhar em parceria com o setor público para garantir ações sustentáveis e de grande alcance.
- Quais são os benefícios da filantropia estratégica?
Ela gera impacto duradouro, fortalece comunidades, promove desenvolvimento sustentável e melhora a eficiência na alocação de recursos sociais.
- Como medir o impacto da filantropia estratégica?
Utilizando indicadores como taxa de inclusão, geração de renda, melhoria da qualidade de vida e retorno econômico e social do investimento realizado.