O fomento da inovação social nas periferias não é uma prática recente – mas está sendo cada vez mais valorizada. Em um contexto de desigualdades, é fundamental que pessoas das periferias tenham acesso às mesmas oportunidades de crescimento que as de outras regiões. Esse pode ser o grande diferencial para um futuro mais igualitário, onde todos e todas têm a chance de prosperar.
Simplificando: aplicar a inovação social trata de encontrar novas soluções para problemas que afetam diretamente a vida das pessoas, mas com um foco que considera o sucesso além do lucro. Trata-se de melhoria na qualidade de vida e o fortalecimento da autonomia de comunidades, por exemplo.
E quando falamos de periferias, isso se traduz diretamente em fazer dificuldades se tornarem soluções criativas e eficientes. E essa mudança já está acontecendo, e a periferia está no centro. Neste artigo, vamos explorar exemplos práticos, os benefícios dessa abordagem e como ela pode ser implementada de forma eficaz por diferentes organizações interessadas em colaborar com a transformação de realidades!
Antes de tudo: o que é a inovação social nas periferias?
O termo, muitas vezes utilizado de forma ampla, se refere à criação e implementação de soluções novas e mais eficazes para problemas sociais, econômicos e ambientais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pessoas e comunidades, especialmente as mais vulneráveis. Nas periferias urbanas, onde a desigualdade social e a falta de acesso a serviços essenciais são comuns, a inovação social se torna um fator fundamental para promover o desenvolvimento sustentável e transformar realidades.
Em suma, é a combinação de conhecimento, criatividade e tecnologia para responder a problemas sociais urgentes, como a falta de acesso à educação de qualidade, saúde, saneamento básico e emprego.
Mas não é apenas sobre resolver esses problemas: é sobre gerar uma mudança estrutural, criando modelos que podem ser sustentáveis e replicáveis, que possam transformar as realidades de quem vive nessas regiões. No contexto das comunidades periféricas, a quebra de barreiras de acesso e a criação de alternativas que empoderem pessoas, dando-lhes as ferramentas necessárias para empreender, sem depender exclusivamente de políticas públicas ou de ações externas, podem ser citadas como exemplos a serem seguidos.
Em bairros periféricos, onde as opções de apoio e investimento são limitadas, a inovação social surge como uma forma de adaptação às adversidades. Esse processo vai além de um simples “fazer diferente”. É sobre fazer acontecer, criando soluções locais que têm um impacto direto na vida das pessoas e comunidades.
Principais desafios das comunidades periféricas no Brasil
As periferias de todo o Brasil enfrentam uma série de desafios históricos e estruturais que dificultam o acesso a serviços de qualidade e a participação plena na sociedade, como:
- Falta de acesso a serviços básicos: Muitas comunidades periféricas carecem de acesso adequado a serviços de saúde, educação, saneamento básico e transporte público de qualidade.
- Desemprego e informalidade: A escassez de oportunidades de trabalho formais, combinada com a alta taxa de informalidade no mercado de trabalho, muitas vezes impede o crescimento econômico de famílias e comunidades.
- Violência e insegurança: A violência urbana, alimentada por fatores como o tráfico de drogas e a falta de políticas públicas eficazes de segurança, afeta diretamente a qualidade de vida e o desenvolvimento das periferias.
- Exclusão digital e educacional: Muitas dessas comunidades não têm acesso ao mínimo quando se trata de educação e inclusão digital. Isso dificulta a adaptação às novas exigências do mercado de trabalho e do mundo globalizado.
O contexto das favelas
A favela cresceu muito demográficamente e seguirá crescendo. Segundo a pesquisa da Data Favela, se as favelas Brasileiras se tornassem um estado, ele seria o 3º maior do Brasil.
Esses dados reforçam a importância e a atenção que o assunto precisa. Entretanto, só é possível fazer isso em conjunto. É necessário a interseção prática e conexão com os projetos que possam, de fato, conectar as oportunidades do asfalto com a potência empreendedora das favelas.
- São 200 bilhões de renda representada e 12 bilhões a mais em relação a 2022
- 5 milhões de pessoas da favela já empreendem
- 6 milhões sonham em ter um negócio próprio, sendo que 7 a cada 10 pretendem realizá-lo dentro da própria favela
- Na favela, são as pessoas negras que formam a maior força econômica
A cooperação entre lideranças empresariais, institutos de pesquisa e desenvolvimento, fundações e poder público pode culminar em resultados mais rápidos e que realmente gerem impacto.
No Instituto Cória, temos como propósito garantir que a inovação chegue a todos e todas, independente de gênero, raça, idade ou localidade. Estamos aqui para provar que o empreendedorismo pode ser a chave para um futuro mais justo e inclusivo!
A Inovação Social como ferramenta de transformação social
Diante desses desafios, a inovação social surge como uma alternativa para promover a inclusão e melhorar as condições de vida das populações periféricas. Ao integrar soluções criativas e colaborativas, as comunidades podem, por meio de iniciativas locais, criar soluções adequadas às suas necessidades específicas. Isso levando em conta sua cultura, recursos disponíveis e características próprias.
Acesso à educação de qualidade
A inovação social no campo da educação tem o poder de transformar as comunidades periféricas. Iniciativas como escolas comunitárias, plataformas de ensino à distância e programas de formação profissional podem ajudar a suprir a carência de um ensino de qualidade e garantir que os jovens da periferia tenham a oportunidade de desenvolver habilidades para ingressar no mercado de trabalho. Projetos que unem educação e tecnologia têm permitido que jovens e adultos na periferia adquiram competências diversas, superando barreiras como a falta de acesso à internet e a escassez de infraestrutura escolar.
Desenvolvimento econômico sustentável
No aspecto econômico, a inovação social pode contribuir para a criação de negócios locais que gerem empregos e promovam o desenvolvimento sustentável. Empreendimentos sociais, cooperativas e modelos de negócios solidários têm se mostrado eficazes na criação de renda e no empoderamento das pessoas nas periferias. Esses modelos não visam apenas o lucro financeiro, mas também o impacto social positivo. Como a geração de emprego para pessoas em situação de vulnerabilidade, a promoção de práticas ambientais sustentáveis e a criação de produtos e serviços que atendam às necessidades locais.
Um exemplo de inovação social econômica é o fortalecimento de economias circulares, onde recursos e resíduos são reutilizados de forma a beneficiar a comunidade, ao mesmo tempo em que geram novas fontes de renda e promovem a sustentabilidade ambiental.
Empoderamento comunitário e participação cidadã
Ninguém sabe melhor do que a periferia do que a própria periferia. Por isso, um dos pilares da inovação social é a promoção do empoderamento comunitário. Isso envolve a capacidade das pessoas de se envolverem ativamente nas decisões que afetam suas vidas e seu entorno. Em comunidades periféricas, onde há uma sensação de exclusão e marginalização, a inovação social pode ajudar a restaurar o poder das pessoas. Seja ele econômico ou social.
A inovação social também pode incentivar a colaboração entre diferentes setores da sociedade — incluindo governos, empresas e organizações não governamentais — para trabalhar juntos em soluções que beneficiem as periferias.
Saúde e Bem-Estar
No campo da saúde, a inovação social pode suprir lacunas significativas em termos de acesso a cuidados médicos. Projetos como clínicas móveis, telemedicina e campanhas de saúde comunitária têm ajudado a levar serviços médicos de qualidade para áreas periféricas, onde a infraestrutura de saúde pública é insuficiente. Além disso, a inovação social na saúde também pode envolver a criação de espaços de bem-estar comunitário, promovendo estilos de vida saudáveis e a prevenção de doenças através de programas educacionais e coletivos.
Conexões para além da comunidade
As periferias agora estão cada vez mais conectadas com outros pólos de inovação e tecnologia. Programas como o VAI TEC têm atuado como catalisadores dessas conexões, trazendo pessoas empreendedoras de diferentes territórios para trocarem experiências, participarem de encontros e, principalmente, formarem parcerias estratégicas com outros atores do ecossistema de inovação.
Quando uma empresa da periferia consegue se conectar com investidores, especialistas ou até com outras empresas que atuam em áreas complementares, ela ganha a chance de expandir, de melhorar seus processos e, claro, de ter seu impacto ampliado!
Como implementar projetos de inovação social?
Desenvolver a inovação social em comunidades periféricas requer uma abordagem cuidadosa e colaborativa, envolvendo a comunidade em todas as etapas do processo.
- Diagnóstico participativo: O primeiro passo é entender as necessidades e os desafios específicos da comunidade. Isso deve ser feito em colaboração com os moradores, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e valorizadas.
- Cocriação de soluções: As soluções devem ser desenvolvidas em conjunto com a comunidade, levando em consideração seu conhecimento local e suas aspirações para que as mudanças realmente façam sentido para a sua realidade específica.
- Parcerias estratégicas: A inovação social é mais forte com a colaboração de diferentes atores, como governos, empresas, OSCs e universidades. Parcerias estratégicas podem fornecer recursos, expertise e apoio político necessários para o sucesso dos projetos.
- Capacitação e empoderamento: É preciso investir na capacitação de moradores, fornecendo treinamentos e recursos para que possam liderar e sustentar as iniciativas. O empoderamento comunitário é a chave para a sustentabilidade a longo prazo.
- Monitoramento e avaliação: É importante monitorar e avaliar o impacto das iniciativas de inovação social, ajustando as estratégias conforme necessário. Isso garante que os projetos continuem a atender às necessidades da comunidade e a gerar resultados positivos.
Exemplos de inovação social pelo Brasil
Um case de inovação social nas periferias é o PISTA (Parque de Inovação Social, Tecnológica e Ambiental da Rocinha), localizado na comunidade da Rocinha (RJ). O PISTA é um espaço dedicado a promover iniciativas que conectam inovação, impacto social, tecnologia e sustentabilidade.
Ele atua como um ecossistema de inovação, acelerando negócios locais e projetos que visam transformar a realidade da comunidade. Oferece suporte para pessoas empreendedoras e proporciona o desenvolvimento de soluções criativas e locais para os desafios enfrentados. Com a criação de parcerias estratégicas com universidades, empresas e outros atores do ecossistema de inovação, o PISTA impulsiona um ambiente colaborativo e sustentável na comunidade.
Amplitude Perifa
O projeto Amplitude Perifa é uma iniciativa do Instituto Helda Gerdau e do Instituto Cória, com apoio da Coalizão pelo Impacto Porto Alegre. O programa visa capacitar negócios de impacto periférico em Porto Alegre e Região Metropolitana, proporcionando capacitações e aporte financeiro para alavancagem dos negócios. O objetivo principal é fomentar competências empreendedoras e contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e sustentável.
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Deu pra ver que a inovação social nas periferias é uma ferramenta poderosa para transformar realidades e construir um futuro mais igualitário, não é? Ao investir em soluções criativas e colaborativas, podemos superar os desafios históricos dessas comunidades e abrir portas para um desenvolvimento mais justo e sustentável.
Você compartilha dessa visão e quer contribuir para essa mudança? Então junte-se ao Instituto Coria e faça parte da construção de um futuro mais justo e próspero para todos