Estudos apontam que empresas com equipes diversas criam ambientes mais competitivos, capazes de oferecer soluções criativas para problemas complexos. E muito disso está atrelado à liderança feminina na inovação! As mulheres são 43,5% dos empreendedores brasileiros estabelecidos, segundo o estudo Global Entrepreneurship Monitor realizado em 2019.
Entre 2016 e 2019, pesquisas apontaram para uma redução gradual na desigualdade de gênero no empreendedorismo tradicional, um movimento que foi interrompido pela pandemia. No ecossistema de inovação, a participação feminina é ainda mais restrita. Apenas 9,8% das startups têm mulheres entre seus fundadores, sendo que apenas 4,7% são fundadas exclusivamente por elas, segundo o estudo ‘Female Founders Report 2021’, elaborado pela Distrito.
As mulheres ocupam apenas 37% dos cargos de liderança no Brasil, de acordo com dados do IBGE e, muitas vezes, ainda ganham menos que os homens em cargos equivalentes. Em contrapartida, startups que contam com pessoas do sexo feminino em seu quadro societário tendem a ter resultados 25% melhores, destaca a consultora de Sustentabilidade Institucional da Suzano, Bruna Ribeiro.
“Essa diferença também é notada nos diversos estágios do negócio. Segundo uma publicação da Harvard Business Review, realizada neste ano, os investidores privilegiam os pitchs de homens, mesmo quando o conteúdo do argumento de venda é idêntico. Essa realidade é consequência de um contexto de desigualdade de gênero que estimula o entendimento de que essas áreas de atuação são ligadas ao universo masculino”, alerta a consultora.
Equidade e competitividade
A realidade desigual traz prejuízos não só para as mulheres, mas a todo o ecossistema.
Sócia e diretora de operações da Semente Negócios, Alline Goulart frisa que iniciativas que promovam inclusão e diversidade têm sido cada vez mais adotadas por empresas e organizações, para além do foco de justiça social e equidade de gênero, conforme aponta o relatório mais recente do ‘Delivering Through Diversity’, divulgado pela McKinsey.
“Possuir uma equipe diversa possibilita o aumento de 30% em resolução de problemas e inovação nos negócios. No entanto, apenas 18% das grandes empresas pesquisadas no Fórum Econômico Mundial têm uma mulher na liderança. Nos últimos anos, houve progresso no que diz respeito ao empoderamento das mulheres no local de trabalho, mas a lacuna de gênero ainda não foi eliminada, principalmente no nível de gestão”, considera.
Além da questão ética e social, um ambiente diverso pode ser um ativo com potencial de gerar melhor performance e retornos financeiros expressivos para as organizações, acrescenta Bruna. “Espaços diversos criam ambientes mais competitivos, com visões de mundo diferenciadas e mais propensos a oferecer soluções criativas para os desafios cada vez mais complexos enfrentados pela nossa sociedade”, observa.
“Igualdade fala sobre incluir públicos anteriormente negligenciados em espaços que nunca foram ocupados de forma majoritária, que é o caso de mulheres e de outros grupos. Se os dados demonstram que a diversidade é aliada ao crescimento de corporações, é preciso pensar nas ações de equidade que compensam essas desvantagens históricas”, pontua Alline.
Fomento à diversidade
Para estimular mulheres a aspirarem posições de liderança, é importante que as organizações assumam compromissos com este fim, realizando programas de desenvolvimento, revisão de sua estrutura, políticas e práticas, por exemplo, e apresentando metas e ações efetivas para a mudança, sugere Bruna.
“Além disso, é extremamente necessário fomentar e dar visibilidade a iniciativas com este foco, sejam elas promovidas pelas universidades, iniciativa privada, social e pública. E pensando de forma geral, para além do mundo organizacional, é preciso combater as barreiras que endossam vieses, muitas vezes inconscientes, que limitam a nossa sociedade.”
Um exemplo pode ser encontrado em estudos que revelam diferenças nas aplicações entre homens e mulheres em processos seletivos. “Enquanto o homem, mesmo não carregando todos os pré-requisitos se candidata, a mulher, que geralmente apresenta a maior parte dos requisitos, não se candidata. Isso é um reflexo do nível de cobrança dentro das próprias organizações”, analisa Alline.
Criar ambientes que fomentam e geram oportunidades para que as mulheres ocupem posições de liderança também é um importante incentivo, assim como o exercício da sororidade, explica Andrea Salsa, sócia da Almeida & Salsa Consultoria RH.
“Mulheres que apoiam mulheres não só estimulam como também geram um lugar de segurança muito necessário. Além disso, uma grande potência de estímulo é ter consciência que, ao assumir uma posição de liderança, a mulher – além de contribuir para a reparação histórica de tantas restrições, violência e desrespeito que nossa ancestralidade feminina sofreu -, abre espaço para que as meninas de hoje e as que ainda vão nascer tenham um caminho menos estreito e doloroso. E, obviamente, que os homens façam a sua parte. Como afirmou Sheryl Sandberg no livro ‘Faça Acontecer – Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar’. Um mundo de fato igualitário seria aquele em que as mulheres comandassem metade dos países e das empresas e os homens dirigissem metade dos lares ” ‘, pontua.
Impulsionando pessoas e resultados
Ampliar a participação da liderança feminina no ecossistema de inovação passa também pela necessidade de “superar fatores externos que impedem o acesso destas mulheres a posições de representatividade, além de impulsionar os fatores internos que, muitas vezes, limitam estas aspirações”, como explica a sócia-diretora da Semente.
Com esse intuito, nos últimos anos, o ecossistema de inovação acompanhou a criação de fundos de investimento, aceleradoras e programas de empreendedorismo específicos para mulheres. Segundo Alline, iniciativas como essas ajudaram a impulsionar outros movimentos de mercado, com ações afirmativas de grandes empresas, como contratações direcionadas e planos de liderança específicos para mulheres que buscam melhorar esse cenário. É nesse contexto que a IMED e a Semente Negócios estão juntas em um novo projeto em prol do fortalecimento da liderança feminina na inovação.
“O primeiro MBA em Liderança Feminina na Inovação do Brasil busca justamente contribuir para esta ação ao desenvolver o potencial profissional da mulher como líder nos negócios e na sociedade, aprimorar seus pontos fortes, suas habilidades e características únicas, aproveitar suas redes e maximizar o potencial de inovação. Em um mundo dominado por sistemas cada vez mais complexos, essas habilidades – e as soluções integrativas e colaborativas que elas trazem – impulsionam as capacidades de liderança da mulher, contribuindo para uma maior participação no ecossistema citado.”